terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Minha Experiência Marcante no Hospital Margarida


Era segunda-feira de carnaval. Tinha eu acabado de chegar a S. D. do Prata, que é uma potência agrícola desde os tempos da corrida do ouro e como tal tem muita tradição em carnaval. Sentei-me na praça central de onde podia ver, ao alto, a Capela do Rosário dos Pretos, ornada em estilo rococó, a Matriz de S. D. Gusmão, gótica, e o edifício do Grupo Escolar, em "art nouveau", um dos prédios mais belos da região. Passava das 18:00 e Matriz roubava toda a cena enquanto as ultimas luzes do dia incidiam sobre sua imensa e envidraçada ogiva lateral. Fiquei pensando naquele simbolismo do neogótico: nas luzes e o pensamento me enviou a onde tudo aquilo tinha origem, ao Caraça. Então me veio à mente aquela imagem de N. S. das Graças, que, na igreja N. S. Mãe dos Homens do Caraça, a primeira neogótica do Brasil, se encontra posicionada à frente da rosácea frontal, fazendo com que a luz só atinja a nave depois de incidir sobre imagem da virgem. 


Então tive uma forte dor abdominal. Achei que era o estomago, uma gastrite de outro mundo. Levantei, despistei, controlei a respiração e caminhei até a outra praça para ver se a dor passava. Sentei-me, respirei fundo e tive vontade de rolar e de me debater no passeio público. Então fui para o carro. Voltei para Monlevade. Foram os 20 minutos de viagem mais longos de minha vida. Chegando pelo Jacuí, desliguei o som do automóvel e , por imenso milagre, o carro se transmutou no esquife de São Pio Mártir que me conduziu a salvo até chegar em casa, onde tomei uma dose cavalar de analgésico e apaguei. No outro dia, a dor havia migrado para a porção inferior direita do abdômen e seguia aguda. Então, anjos rococós, das mais esbugalhadas escleróticas de Athayde, apareceram voando no quarto e soaram as trombetas, meu pai abriu a porta e disse: - deixe-me examiná-lo. E fez o diagnóstico: era apendicite. Então, fomos para o Hospital Margarida, onde fiquei em observação e fiz os exames clínicos que confirmaram a “apendicite aguda”. Por volta das 18:00 hs, fui encaminhado ao Bloco Cirúrgico e submetido à cirurgia. 
Quanto ao atendimento que tive no Hospital Margarida não tenho nada a reclamar, a não ser pela refeição. Sopa de fubá em plena quarta-feira de cinzas não é coisa a se desejar ao pior moribundo da terra. No entanto, apenas durante a pernoite que fiz, de terça-feira de carnaval para quarta-feira de cinzas, tive o conhecimento da morte de 3 pessoas na ala em que me encontrava no hospital; um bebê de 2 meses que chorou, desesperadamente, a noite inteira; um jovem do Bairro Planalto que passou mal por conta de uma injeção e uma parturiente. O Pronto Atendimento sempre lotado, etc. Pude testemunhar de perto o quanto o Hospital Margarida é sensível e de como tamanha sensibilidade pode, facilmente, se traduzir na morte das pessoas. 
Algo está muito errado no Margarida. A impressão que tinha e que agora se transformou em conclusão é que o Hospital tem deixado de lado sua função precípua de salvar vidas para se transformar num instrumento do projeto de poder do inelegível Carlos Moreira. E não há como o hospital fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ou ele se dedica a salvar vidas, ou se entulha de cabos eleitorais de Simone/Carlos Moreira. Ou ele salva vidas, ou se presta a canteiro de obra para o ininterrupto faturamento empreiteira que já reformou o hospital três vezes. Ou ele salva vidas, ou contrata plano de saúde em que o provedor é particular interessado, etc, etc. Afinal, qual é a função de um hospital? Salvar vidas ou enriquecer uma patota de salafrários? O que sei é que, após minha experiência no Margarida, encontro-me ainda mais determinado em combater todo o mal que lá se encontra.

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