terça-feira, 29 de agosto de 2017

Cavalgada, Alienação Cultural e a Incapacidade de Realização do Governo Simone

A exemplo do ocorrido no ano passado, em 2017, João Monlevade não terá Cavalgada. De certo modo é até um alívio, considerando que a maior festa da cidade se revestiu muito daquele caráter caipiresco, importado dos canaviais de São Paulo, em que prevalece a monocultura enlatada do chamado sertanejo universitário que tem por objetivo transformar o jovem num caipira, pois na roça não existe Polis, no sentido grego do termo. Assim, como um caipira, o jovem se torna inapto a se prestar a agente político do país.
No entanto, com um pouco de conhecimento e vontade política, a Cavalgada poderia se tornar numa festa de celebração das tradições regionais e locais. Poucos sabem, mas a Avenida Getúlio Vargas é um importante trecho da Estrada Real que permitia o acesso de localidades como Sabará, Santa Bárbara, São Gonçalo, Itabira, etc, à Fábrica de Ferro de João Monlevade, à São Miguel do Piracicaba e além. Era pelo traçado que hoje corresponde à Avenida Getúlio Vargas, um dos poucos caminhos carroçáveis da Estrada Real na época, que Monlevade escoava a sua produção por meio de tropas de muares e carretões de quatro rodas puxados por juntas de bois no século XIX. Para se ter uma ideia, havia um carretão puxado por bois que deixava a Fábrica de Ferro de Monlevade, rumando para a direção de Carneirinhos e se dirigia até a Mina de Ouro do Morro Velho, em Nova Lima, levando peça de ferro de mais de 900 quilos de peso. Além do mais, a via também era muito freqüentada pelas variadas tropas que mantinham negócios com Monlevade e por aquelas que utilizavam as duas pontes mantidas por ele sobre o Rio Piracicaba, coisa rara na época. Em 1853, o próprio Monlevade escreveu:

[...]
Enfim, este lugar outrora inteiramente deserto, está hoje muito freqüentado pelas numerosas tropas carregadas de mantimentos que vão para a mata e saem dela, assim como por outras que têm negócios com a casa, todas se aproveitando das estradas, e no tempo de seca de uma das pontes que franqueei ao público. [...]


Vale lembrar também que a região tem grande tradição em tropeirismo. O município vizinho de Itabira detém o título de capital tropeira de Minas Gerais, cujo distrito de Ipoema alberga o Museu do Tropeiro. 
Como se vê, as possibilidades de se transformar a Cavalgada numa festa de cultura regional, formadora da identidade local são infinitas. Mas, a turma que está no poder não quer assim. Então, se for para manter o caráter alienante da festa é melhor até que não se faça.
No entanto, sob o ponto de vista político, a não realização da Cavalgada pode ser encarada como um triste termômetro do governo Simone: um termômetro da incapacidade de realização do governo Simone/Carlos Moreira. A capacidade de realização de qualquer governo depende muito de liderança política. Quando se faz a opção por eleger uma prefeita que é preposta política de um ex-prefeito inelegível, como é o caso de Carlos Moreira, muito desta liderança se perde na confusão sobre quem, realmente, tem a palavra final no governo. 
Além desta perda política natural, que dificulta as realizações do governo, ainda se soma o fato de Carlos Moreira se encontrar esgotado, politicamente. A capacidade de realização política de Carlos Moreira se esgotou com a adaptação do antigo terminal rodoviário num hospital de 100 leitos ao custo de muito mais de 22 milhões em recursos públicos. É preciso que o eleitor compreenda a cassação dos direitos políticos de Carlos Moreira como seu esgotamento político e, por conseqüência, com a incapacidade política de realizar eventos e projetos. Prova disto é que o pouco de realização que se vê na atual administração, como o asfaltamento de ruas já calçadas, por exemplo, se dá por meio da terceirização das ações de governo à empreiteiras que entregam um péssimo serviço à comunidade. Tudo mais que dependa da liderança direta da prefeita ou de Carlos Moreira se encontra estagnado no Município.

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