terça-feira, 28 de março de 2017

Monlevade e as 5 Cordilheiras de Ferro de Minas Gerais: "Uma só delas encerra mais ferro do que todas as da Europa reunidas"


O relatório emitido por Monlevade em 1853 a pedido do governador, Francisco Diogo de Vasconcelos, é considerado o primeiro relato sobre a riqueza mineral do ferro em Minas Gerais.
163 anos após ser redigido, a primeira parte do documento (imagem acima), a que trata das jazidas de ferro em Minas, impressiona pela magnitude colossal das extensões das jazidas. Segundo Monlevade, além inúmeros outros pontos de ocorrência do mineral, Minas Gerais tem 5 principais Cordilheiras de Ferro e somente uma dela tem mais ferro do que todas as da Europa reunidas. A partir das descrições de Monlevade, é, realmente, impressionante como as minas de ferro de Congo Soco, Brucutu, Cauê e Conceição pertencem ao mesmo veio ferrífero, ou seja à 4ª Cordilheira, a maior delas, com 20 léguas (130 km) de extensão. Assim como as de Itabirito, Nova Lima, Belo Horizonte, Sabará e Caeté pertencem a outro veio, a 5ª Cordilheira. Ou como a Mina do Andrade e do Morro Agudo também estão dispostas sobre um mesmo veio de ferro, a Segunda Cordilheira. 
Igualmente, inacreditável é que, ao se traçar um quadro no Mapa de Minas em torno das Cordilheiras de Ferro descritas por Monlevade, tem-se, precisamente, formado o Quadrilátero Ferrífero (imagem abaixo), cuja perpendicular Monlevade calculou em “termo médio de 18 léguas”(120 km).
Também chama a atenção a pureza do mineral ferrífero de Minas Gerais, que, segundo Monlevade, tem 76% de seu peso em ferro, “o mais rico que se conhece”.
Monlevade também traz a importante informação de que é dentro da região ferrífera que ocorre a maioria das minas de o ouro e as mais ricas aparecem entre as camadas de ferro, o que torna plausível a afirmativa comum de que muitos países lavam o minério de ferro exportado por Minas e tiram dele o ouro.
Transcrevo a seguir a 1ª Parte do Relatório de João Antônio de Monlevade, datado de 12/12/1853:


“Na Província de Minas, além de inúmeras camadas de mineral de ferro, mais ou menos extensas, existem cinco principais cordilheiras; e pode-se afirmar que uma só delas encerra mais ferro do que todas as da Europa reunidas, atendendo não somente a sua extensão a sua extensão e poder, como a riqueza do mineral, o mais rico que se conhece; pois que analisado quimicamente contem 76 % de seu peso em ferro.
Elas quase sempre são acompanhadas de outras camadas de ferro denominadas - Jacutinga, as quais são compostas do mesmo ferro oxidulado, ou protóxido de ferro, de manganês d’óxido de titânio, etc, etc, em estado arenoso. Também em superposição, ou nos encostos delas , existem as camadas de canga, ou hidrato de ferro mineral, muito empregado na Europa para produção, nos fornos altos, de ferro líquido. A canga pela análise dá somente de 25 a 35% de ferro. É das duas primeiras camadas somente, que se extrai o ferro destes contornos. O último mais pobre, pelo sistema de fundição usado nesta Província, daria muito pouco ferro . A direção geral das camadas é de N.N.E a S.S.O . Elas são deitadas ao nascente. A sua grossura varia de 1/8 a ¼ de légua. A profundidade delas é desconhecida.
A primeira cordilheira a Leste principia perto de Sacramento, município de Santa Bárbara, Freguesia da Prata, passa em S. Domingos, Jequitibá, atravessa o Rio Piracicaba, um dos maiores confluentes do Rio Doce, e vai continuando nas matas, ainda não descortinadas acima do Ribeirão de Cocais Grande (Antônio Dias), onde apresenta-se poderosa. Comprimento total conhecido doze léguas. Em toda sua extensão de um lado a outro mata geral, terreno fertilíssimo e águas altas.
A segunda aponta perto do Piracicaba a 3 ½ léguas acima do arraial de S, Miguel, na fazenda do professor Abreu, e forma esta serra elevada que acompanha a margem esquerda do rio; o pico saliente denominado – Morro Agudo- prolonga-se adiante da fábrica de J. A. Monlevade, que ela atravessa em comprimento de uma légua. Extensão total dez léguas.
A terceira aparece no Capão, ao sul d’Ouro Preto, onde ela forma uma parte importante ao Oeste da Cidade; segue para Santa Anna, Antônio Pereira; forma no Morro da Água Quente o encosto da Serra da Mãe dos Homens (Caraça) e a diante da lavra de G. Mor Innocencio desaparece. Extensão de 12 léguas. 
A 4ª surge na ponta Sul da Serra Mãe dos Homens a 1 ½ légua da povoação de Capanema; vai se dirigindo ao N., passando perto da Cachoeira, Morro Vermelho, Roça Grande: segue para o Gongo (Soco), Cocais, Burucutu, Serra da Conceição e de Itabira, formando o Pico elevado da Cidade. Extensão vinte léguas. 
A 5ª, e última ao Oeste, tem sua origem no sul do pico elevado de Itabira do Campo (Itabirito), o qual é inteiramente formado de ferro oxidulado. Ela acompanha esta imensa cordilheira saliente até ao Curral d’El-Rei, atravessa o Rio das Velhas em Sabará, prolonga-se até a muito elevada Serra da Piedade perto de Caeté, aonde ela forma uma grande parte da mesma. Extensão total 18 léguas. É muito provável que estas grandes camadas vão aparecer ao norte em Gaspar Soares, Candonga, na Serra Negra, no Grão Mogor, etc, etc; lugares todos riquíssimos de ferro. A distância destas cinco camadas da 1ª a Leste até a última 5ª ao Oeste, tomada perpendicularmente à direção delas é termo médio de 18 léguas. Nos terrenos interpolados , as duas camadas extremas incluídas, é que existem a maioria das minas de ouro, e as mais ricas tem aparecido nas camadas de ferro, assim como no Ouro Preto, Sabará, Gongo, Itabira, etc, etc.”
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